domingo, 23 de dezembro de 2012

Cálice


Por João Eugênio

    - Silêncio! Psssssssssss...
    - Mas... Pai... Como é difícil abrir a porta! Preciso de sua ajuda... Seria mesmo necessária tanta força bruta?
    - Cale-se! Ouça o que os bêbados estão arquitetando no centro da cidade, engula a palavra presa em tua garganta, engula toda essa mentira! Minha cabeça perdeu teu juízo e assim julgamos e inventamos seu próprio pecado. Estarei orando por ti enquanto agonizas com seu próprio veneno ou perderás de vez a cabeça. O palco está armado! A porta está completamente aberta, entre, fique à vontade!Tome seu assento - no sofá, na cadeira, num banquinho de madeira. NÃO, NÃO!!! Vamos para a arquibancada -, mas permaneça calado e apenas observe enquanto lhe sirvo uma bebida.
    - Por que essa lagoa? Tenho medo do que pode, porventura, emergir de suas profundezas, pai...
    - Cale-se. Não é uma lagoa, é um espelho! Observe atentamente enquanto brindamos...
    - Mas... Pai... Prefiro um copo mais simples. Por que esse cálice?
    - Cale-se!
    - Preciso gritar... Não estou agüentando mais! EU QUERO UM COPO MAIS SIMPLES!
    - CÁLICE. CALE-SE! Brindemos, pois, com seu próprio sangue. ISSO! BEBA, BEBA, BEBA... MEU FILHO!!! O espetáculo começou! Palmas para o poeta, para o artista e para o ator que quando se embriaga mostra quem realmente é.
    - Afasta de mim esse cálice, pai? Por favor, me ajuda?
    - Quem é mesmo você? CALE-SE!!!

    Música

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