Ainda criança comecei a busca por meu tempo perdido. Eu tinha que encontrá-lo, não poderia perder tempo, afinal como dizem as más línguas: "O tempo é precioso. Tempo é dinheiro". Quem sabe não poderia achá-lo e vendê-lo? Não! O tempo era meu. Precisava dele para brincar, eu era uma criança.
Andava por caminhos tortuosos, enfrentava tempestades, mas não importava. Eu precisava achar meu tempo. Como ele podia ter andado sem mim? Será que alguém o roubou? Ahhh, se eu coloco as mãos no ladrão…!
"Tempoo? Teempo? Cadê você, tempo?" - ele não voltava, não me escutava. Resolvi sentar à beira de um lago o qual me trazia paz, e me aproximei a fim de matar a sede física, e enganar a sede da procura. "Quem era aquele no lago?" - Um jovem bonito, um pouco maltratado pelo cansaço, mas ainda assim bonito. "Quando crescer quero ser como ele! Que engraçado! Ele repete exatamente meus gestos! … Ei, para! Será…? Será que o jovem sou eu?" - Não conseguia entender, eu era uma criança…! Não importa! Precisava achar meu tempo.
Eu via pessoas indo, buscando como eu. Via outras voltando: talvez desistentes, talvez eficazes na busca. Continuei seguindo meu caminho. Algumas me questionavam sobre o tempo, e eu sempre dizia: "O meu está tão perdido quanto o seu."
Comecei a me questionar qual era o motivo de tamanha busca, não precisava mais brincar; não precisava de romances, eles me faziam perder ainda mais o tempo. E eu precisava dele, precisava dele para pensar. Quantas coisas queria pensar, mas não podia sem o tempo. Já era um homem, mas não tinha nada, ele me tirava tudo.
Certo dia, já desistindo da minha busca, cansado e com vontade de viver tudo que deixei para trás nessa estrada, avistei uma moça relativamente jovem, com um aspecto sereno. Aproximei-me e a questionei sobre seu nome: Vita. "Que nome engraçado!" - pensei comigo. Contei-lhe sobre meu objetivo e ela riu:
"Como você procura algo que está dentro de voce?"
"Como assim?"
"As pessoas têm a mania de achar que o tempo anda só, que ele se perde delas, mas ele está ali, esperando para ser utilizado."
"Mas… E agora? Eu faço o quê?"
"Bem, agora nada. Seu tempo está comigo. E você deve me acompanhar." - Como não tinha escolha, fechei meus olhos e deixei que a Vita me levasse, eu e meu tempo.