domingo, 27 de janeiro de 2013

Um tempo que passou




     Ainda criança comecei a busca por meu tempo perdido. Eu tinha que encontrá-lo, não poderia perder tempo, afinal como dizem as más línguas: "O tempo é precioso. Tempo é dinheiro". Quem sabe não poderia achá-lo e vendê-lo? Não! O tempo era meu. Precisava dele para brincar, eu era uma criança.
     Andava por caminhos tortuosos, enfrentava tempestades, mas não importava. Eu precisava achar meu tempo. Como ele podia ter andado sem mim? Será que alguém o roubou? Ahhh, se eu coloco as mãos no ladrão…!
     "Tempoo? Teempo? Cadê você, tempo?" - ele não voltava, não me escutava. Resolvi sentar à beira de um lago o qual me trazia paz, e me aproximei a fim de matar a sede física, e enganar a sede da procura. "Quem era aquele no lago?" - Um jovem bonito, um pouco maltratado pelo cansaço, mas ainda assim bonito. "Quando crescer quero ser como ele! Que engraçado! Ele repete exatamente meus gestos! … Ei, para! Será…? Será que o jovem sou eu?" - Não conseguia entender, eu era uma criança…! Não importa! Precisava achar meu tempo.
     Eu via pessoas indo, buscando como eu. Via outras voltando: talvez desistentes, talvez eficazes na busca. Continuei seguindo meu caminho. Algumas me questionavam sobre o tempo, e eu sempre dizia: "O meu está tão perdido quanto o seu."
    Comecei a me questionar qual era o motivo de tamanha busca, não precisava mais brincar; não precisava de romances, eles me faziam perder ainda mais o tempo. E eu precisava dele, precisava dele para pensar. Quantas coisas queria pensar, mas não podia sem o tempo. Já era um homem, mas não tinha nada, ele me tirava tudo.
    Certo dia, já desistindo da minha busca, cansado e com vontade de viver tudo que deixei para trás nessa estrada, avistei uma moça relativamente jovem, com um aspecto sereno. Aproximei-me e a questionei sobre seu nome: Vita. "Que nome engraçado!" - pensei comigo. Contei-lhe sobre meu objetivo e ela riu:
    "Como você procura algo que está dentro de voce?"
     "Como assim?"
    "As pessoas têm a mania de achar que o tempo anda só, que ele se perde delas, mas ele está ali, esperando para ser utilizado."
    "Mas… E agora? Eu faço o quê?"
    "Bem, agora nada. Seu tempo está comigo. E você deve me acompanhar." - Como não tinha escolha, fechei meus olhos e deixei que a Vita me levasse, eu e meu tempo.


    Música

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Geni e o Zepelim

Por João Eugênio


Excrementos ideológicos (como se o intestino se encontrasse na caixa craniana daquela multidão!).
São todos assim? Claro que não! Quem não segue suas regras e está no meio deles, faz a diferença autêntica, proclamando a mesma crença e agindo na verdade, se tornando uma exceção.
É exatamente isso que podiam atirar (além das pedras). E assim o faziam, ininterruptamente!
Escarravam a própria ignorância nos olhos daqueles malditos “filhos das trevas”, afinal, estes formosos vermes, tão coitados, tão singelos, foram feitos pra apanhar (e podiam disfarçar o seu medo de bater, procurando teorias pra poderem se esconder).
Mas se vissem nessa gente, uma ocasião pertinente pra poderem se safar, cuidariam das palavras, agiriam com cuidado e aqueles pobres “coitados” chegariam num estado de não mais raciocinar.
Mas, AI DESSES POBRES “COITADOS”, se aos ouvidos daqueles outros indivíduos chegasse, que alguns dos “entrevados” se atreveram a pensar, só um pouquinho, só às vezes... eles não perdoariam, a não ser que esses pensantes, incisivamente, negassem sua vida, sua lida, sua fé (e jamais fariam isso!).
Então, tudo volta ao normal! As fezes são atiradas, feito ideias regurgitadas por mentes petrificadas que fazem de suas bocas uma cavidade anal, confundem as mentes loucas, acusam sem moderação arremessando para o alto todas aquelas pedras que lhe dariam sustentação.
Quem são eles?
Eu ou você?

Atire a primeira pedra que eu lhe digo!


Música

sábado, 19 de janeiro de 2013

Folhetim



    Por Giovanna Bonato


    Ei, bom amigo, sente-se aqui. É ótimo te encontrar, preciso mesmo gastar minha saliva com um bom entendedor. Conheces Adelaide? Aquela formosa moça com cabelos louros, coxas grossas, que sempre desfila elegantes vestidos de cetim? Pois então, ela anda atormentando meus miolos.
    A conheço há tempos, desde a época do colégio, quando ainda éramos meninos. Iniciamos contato logo de cara, sua boca (ao contrário das outras moças) fala mais bonito que suas pernas... Da gosto perder horas ouvindo suas risadas!
    Acredita que acabei caindo de amores? Eu lhe fazia feliz, amada e ela me concedia todas as minhas vontades e desejos, até que conheci a boemia. Ôh vida boa! Gastei noites e madrugadas com bebedeiras, jogos, falsos amigos e, consequentemente, mulheres. Confesso que gostei, não posso negar. Mas a mamata acabou quando vi Adelaide dando bandas por aí acompanhada de um tal moço de negócios. Oras, o que ela pensava que era?
    Fui puxar a ficha do tal homem e me perdi meio a tantos bens e renda. Me recolhi em minha embriagues e percebi o erro que havia cometido. Perdi minha amada... Moça a qual dedicava todo seu tempo livre para fazer meus caprichos e encher-me de amor, atenção e carinho.
    Dizem as más línguas dessa cidade que Adelaide não quis saber do tal João, que não se envolve com mais ninguém desde a minha partida e só pensa em trabalho. Mas olhe para mim! Tenho meu trabalho, amigos e luxos, mas estou agarrado ao copo de cerveja, sentado nesse botequim, por falta da mão de Adelaide para agarrar.
    Não quero dar fim a esse sentimento, quero mesmo é um final feliz para essa novela. Mas será que Adelaide ainda precisa de mim? Diga, meu amigo, devo ou não descartar essa página de meu folhetim?  

    Música
    

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Mil perdões


    A carta chegou como a fala de um filme mudo - você sente falta, mas é completamente desnecessária, e a princípio tais palavras foram mesmo:

    " Querida Alice,

    Eu poderia dizer que nossa história foi bem conturbada, pensei em continuar desaparecido de sua vida, mas não poderia errar dessa forma, portanto essa é uma carta de perdão. Para eu continuar, preciso te perdoar por inúmeras coisas.
    Você sabe que sempre fui uma pessoa sincera, Alice, mas aprendi a mentir por você. Nunca fui homem de uma mulher só, gostava de sair, gostava de me perder pela noite, e em uma delas, achei você. Eu me apaixonei e decidi abandonar minha vida de "conquistador nato" (como você sempre falou). Mas você nunca acreditou em mim... Fazia mil perguntas, perguntas que quem confia não faz. E depois me pedia perdão...
    Você dizia me amar, e dizia muito... Chorava por eu não falar tanto, e depois chorava mais por eu rir da sua bobeira de chorar. E me pedia perdão...
    Comecei a sair mais, a demorar mais, a viver mais e me perder de ti, e você gritava, me ligava, desconfiava. E me pedia perdão...
    Até que comecei a mentir, mentir, te trair, me mentir... E você me pedia perdão...
 Agora resolvi te perdoar por tudo, e, principalmente, te perdoo por te trair.
  De qualquer forma, obrigada por todos os momentos.

                                    Do um dia seu,
                                               Luiz Roberto"
                                                                                                                                             
    Não entendo como ele conseguia ser tão pretensioso, mas de alguma forma, estava aliviada.

         Música
     

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Ano novo


Por Pedro Arvellos e Bia Carrozza


     O último minuto. O último minuto de conquistas, grandes perdas. O presente se tornando passado, o futuro se tornando presente. Eram quatro no começo do final do ano:
     As luzes da Torre Eiffel nunca estiveram tão bonitas. O frio cobria o seu corpo, preferia ter ficado em casa, mas a companhia da solidão não seria uma boa alternativa. Era melhor estar cercado de pessoas, sorrisos… talvez um deles o contagiasse. A mudança para Paris não poderia ter vindo em momento melhor: acabara de perder o amor da sua vida. Não teve culpa, nenhum dos dois teve, o tempo os afastou; ele, seu maior inimigo virou seu aliado agora. Sentia falta de sua família, seus amigos, sentia falta dela… mas sabia que mesmo estando perto sentiria saudade. Era meia noite. Fechou os olhos e pensou em seu sorriso pela última vez; quando abriu, os fogos de artifício colorindo ainda mais a Torre indicavam um recomeço naquela cidade estrangeira. Era ano novo…
      Saltando sobre as pedras pontudas de São Paulo, com um dia sobre suas costas, José derrama cansaço pelo chão. José filho de Roberto, pai pobre e abandonado pelos sonhos. Quem dera José com seu corpo negro se espalhasse pela noite e voasse sobre a fumaça que esconde as estrelas para os braços de seu pai, e com ele passasse os últimos segundos de um ano velho. As luzes pelo céu lhe mostram que ele está atrasado, porém também refletem o brilho dos olhos de seu pai, que mesmo longe, lhe espera sentado na sua velha poltrona. Encantado por tantas cores, o menino para pelo caminho e vê nelas a esperança que precisa compartilhar com seu velho. Corre como nunca correu, chega em casa e puxa seu pai pelo braço até que ele consiga ver o céu. Nos olhos de ambos, os sonhos escorrem como lágrimas. Era ano novo...
     Há anos sonhava em começar o ano em Copacabana. Finalmente, estava lá. Não conseguia pensar em mais nada, apenas no show de cores que estava prestes a presenciar. Mas num segundo, imaginou como seria estar mais perto do céu. Apesar da violência que vestia as favelas, sentiu vontade de despí-las e ver realmente as  curvas que as faziam. Olhou para o céu, e as cores lhe deram um sonho realizado e a esperança de tantos outros que estavam por vir, um deles já veio. Era ano novo…
     “Sinto-me a alguns metros do céu, quase posso tocá-lo. Porém está tão longe, quem dera deslizar sobre essas curvas que nos separam e descobrir seu país. “ - O tempo lhe obriga a sorrir, pois mais um ano se eterniza. E tudo que separa os dois é um céu iluminado que derrama sobre a cidade pedaços de sonhos. Um deles o atinge como flecha. Era o dela, tinha de ser. Sabia que estava lá em baixo em algum lugar, não devia estar pensando exatamente nele, nem o conhecia. Mas as cores agora o enchiam apenas de possibilidade. Algo iria acontecer… Era ano novo…
     Eram quatro, e o céu, e a luz, e as cores e o ano novo!


    Música