quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Ano novo


Por Pedro Arvellos e Bia Carrozza


     O último minuto. O último minuto de conquistas, grandes perdas. O presente se tornando passado, o futuro se tornando presente. Eram quatro no começo do final do ano:
     As luzes da Torre Eiffel nunca estiveram tão bonitas. O frio cobria o seu corpo, preferia ter ficado em casa, mas a companhia da solidão não seria uma boa alternativa. Era melhor estar cercado de pessoas, sorrisos… talvez um deles o contagiasse. A mudança para Paris não poderia ter vindo em momento melhor: acabara de perder o amor da sua vida. Não teve culpa, nenhum dos dois teve, o tempo os afastou; ele, seu maior inimigo virou seu aliado agora. Sentia falta de sua família, seus amigos, sentia falta dela… mas sabia que mesmo estando perto sentiria saudade. Era meia noite. Fechou os olhos e pensou em seu sorriso pela última vez; quando abriu, os fogos de artifício colorindo ainda mais a Torre indicavam um recomeço naquela cidade estrangeira. Era ano novo…
      Saltando sobre as pedras pontudas de São Paulo, com um dia sobre suas costas, José derrama cansaço pelo chão. José filho de Roberto, pai pobre e abandonado pelos sonhos. Quem dera José com seu corpo negro se espalhasse pela noite e voasse sobre a fumaça que esconde as estrelas para os braços de seu pai, e com ele passasse os últimos segundos de um ano velho. As luzes pelo céu lhe mostram que ele está atrasado, porém também refletem o brilho dos olhos de seu pai, que mesmo longe, lhe espera sentado na sua velha poltrona. Encantado por tantas cores, o menino para pelo caminho e vê nelas a esperança que precisa compartilhar com seu velho. Corre como nunca correu, chega em casa e puxa seu pai pelo braço até que ele consiga ver o céu. Nos olhos de ambos, os sonhos escorrem como lágrimas. Era ano novo...
     Há anos sonhava em começar o ano em Copacabana. Finalmente, estava lá. Não conseguia pensar em mais nada, apenas no show de cores que estava prestes a presenciar. Mas num segundo, imaginou como seria estar mais perto do céu. Apesar da violência que vestia as favelas, sentiu vontade de despí-las e ver realmente as  curvas que as faziam. Olhou para o céu, e as cores lhe deram um sonho realizado e a esperança de tantos outros que estavam por vir, um deles já veio. Era ano novo…
     “Sinto-me a alguns metros do céu, quase posso tocá-lo. Porém está tão longe, quem dera deslizar sobre essas curvas que nos separam e descobrir seu país. “ - O tempo lhe obriga a sorrir, pois mais um ano se eterniza. E tudo que separa os dois é um céu iluminado que derrama sobre a cidade pedaços de sonhos. Um deles o atinge como flecha. Era o dela, tinha de ser. Sabia que estava lá em baixo em algum lugar, não devia estar pensando exatamente nele, nem o conhecia. Mas as cores agora o enchiam apenas de possibilidade. Algo iria acontecer… Era ano novo…
     Eram quatro, e o céu, e a luz, e as cores e o ano novo!


    Música

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